« back | MEMÓRIA DESCRITIVA
Fotografia © FCG
A memória descritiva e justificativa do projecto de arquitectura inclina-se sobre os seguintes aspectos: localização, conservação, objectivos, implantação, princípio de intervenção sobre os edifícios existentes, conceito, programa, organização funcional, soluções construtivas, ventilação, climatização, iluminação e acessibilidades.
Localização | Conservação | Objectivos O projecto localiza-se na Rua Álvares Cabral, freguesia de Cedofeita, cidade do Porto. O terreno é composto por duas fracções, devidamente emparceladas, com os nº 136 e 150. Os lotes são ocupados por dois edifícios existentes, datados de início do séc. XX e anexos que ocupam parcialmente o logradouro. As construções fazem parte do conjunto edificado que faz a frente urbana da Rua de Álvares Cabral, de elevado valor arquitectónico. O terreno, pelo facto de não estar a ser utilizado, apresenta uma manutenção insuficiente. O Projecto tem como intenção, por parte do proprietário, a recuperação, quer do terreno quer das edificações, que, pelo facto de não estarem ocupados e sem um uso efectivo dos mesmos, encontram-se com sintomas de degradação evidentes. As duas edificações existentes têm níveis de degradação distintos. O Prédio com o nº136, embora não tenha uma utilização há bastante tempo, está em condições de ser restaurado, enquanto o Prédio com o nº150, tem já elementos em mau estado de conservação. Em função do programa pretendido, que se estendia, em área, para além das edificações existentes, houve a necessidade de se criar uma edificação. Esta edificação unir-se-á aos edifícios existentes, ocupando o interior do quarteirão. A intervenção tem como objectivo albergar as novas instalações da Sede da Ordem dos Arquitectos – Secção Regional Norte e, paralelamente, o Norte 41º Centro de Arquitectura, Criatividade e Sustentabilidade. Sítio / Implantação A Rua Alvares Cabral, à época que foi planeada, era procurada pela média e alta burguesia portuense da altura, que procurava afastar-se do antigo centro da cidade, fixando-se em áreas menos densificadas. Hoje, já depois de se ter transformado numa área densa da cidade, é testemunha de uma atitude de recuperação do vasto património expectante do centro da cidade. Um dos aspectos mais marcantes e singulares do lote é a sua composição, através de dois edifícios gémeos e um logradouro de uso comum. Compreendendo o conteúdo do lote deu-se lugar à forma da intervenção. Assim sendo, as tipologias de intervenção dividem-se em restauro, reabilitação e construção. As três impuseram-se naturalmente em função do estado de conservação dos edifícios existentes, bem como do programa a introduzir. Um dos edifícios existentes, em função do seu relativo bom estado de conservação e qualidade dos elementos decorativos, será alvo de restauro integral. O edifício gémeo, em função do seu mau estado de conservação será alvo de reabilitação, sendo a tipologia a introduzir igual à original, tendo como referência o edifício em bom estado, mas sendo objecto da depuração dos elementos decorativos, através de uma linguagem mais elementar. O conjunto fica completo com uma construção nova que ocupará o interior do lote, no local onde é, actualmente, o logradouro comum e está adoçada aos muros de meação dos logradouros fronteiros. O edifício proposto, em forma de “U” dará origem a um pátio central e unirá os edifícios existentes, criando uma permeabilidade e ligação tipológica entre os espaços existentes e propostos. Foram atribuídas as referências de Edifício A para o edifício existente a restaurar (localizado a poente), Edifício B para o edifício existente alvo de reabilitação (localizado a nascente) e Edifício C para o novo edifício (localizado no interior do lote). Princípio de Intervenção sobre os Edifícios Existentes Relativamente aos imóveis existentes, a operação visa o restauro (Edifício A) e reabilitação (edifício B) dos mesmos, não havendo transformações físicas, quer das fachadas quer das volumetrias. A intervenção circunscreve-se ao interior dos edifícios, sendo feita, no exterior, a reparação e conservação dos elementos que compõem as fachadas e coberturas (caixilhos, guarda-corpos, telhas). A intervenção no Edifício A diz respeito ao reconhecimento dos elementos decorativos existentes, sendo alvo de restauro cuidadoso. As pinturas das guarnições existentes serão em tintas de óleo. Os marmoreados e trabalhos decorativos em paredes e tectos, serão preservados e devidamente colmatados, com as técnicas de restauro. Relativamente ao Edifício B, os espaços serão reabilitados, mas os elementos que, no edifício A, têm um grande valor decorativo, serão, neste caso, reproduzidos com um desenho mais elementar (rodapés, lambrins, guarnições de vãos interiores). Os espaços serão reabilitados, mas serão executados com técnicas construtivas adaptadas a sistemas mais actuais. Conceito A inserção urbana foi um elemento sensível ao desenvolvimento da proposta, sendo determinante a opção de manter os edifícios existentes, sendo conservados e recuperados, preservando todo o seu carácter original. O edifício proposto, implantado no interior do quarteirão, no logradouro, tem uma cércea menor que os existentes de dois pisos, assumindo uma presença nula para a via pública. A inserção e volumetria da nova construção, estabelece com as fracções vizinhas uma relação intimista, com pouca presença física, sobretudo ao nível da altura dos muros de meação com as fracções confrontantes existentes. O novo edifício dissimula-se, exacerbando a identidade dos edifícios existentes. O pátio central, com ligação directa à via pública, faz a comunicação com o novo edifício. O objecto arquitectónico tem a disposição de ”U”, composto pelos dois braços laterais que se ligam aos edifícios existentes, com o núcleo que se encerra ao pátio. A configuração inclinada do pátio tem como objectivo amenizar a relação da cércea da nova construção com os edifícios existentes. O princípio construtivo do Edifício C, baseia-se na tensão de uma massa flutuante, que se “apoia” num plano de vidro. Jogo de suspensão em que a matéria mais pesada levita sobre a matéria mais leve, em antítese à construção típica, Edifícios A e B, que se alicerçam no terreno. Programa / Organização Funcional A organização funcional é definida pela introdução das valências privadas nos edifícios existentes e as valências públicas no edifício novo, sendo servidos por um pátio central que funcionará como elemento de recepção. O objectivo desta separação é a optimização de funcionamento, em que se agrupam e inter-relacionam, da melhor forma possível, as hierarquias dos serviços privados e dos serviços públicos, respectivamente. Ao mesmo tempo, cria-se um conjunto edificado, em que os espaços se articulam de forma clara e objectiva, com ligação espacial entre os edifícios existentes e o proposto. Edifícios A e B Concentram-se, assim, os arquivos na cave, as salas de reunião no piso térreo e os escritórios nos pisos superiores. A localização das salas de reunião no piso térreo tem como estratégia aglutinar a maior concentração de público numa área em que os espaços mais nobres têm maior relação com o exterior. Consegue-se, ainda, controlar a possibilidade de, em determinadas ocasiões, a densidade de público se limitar a um piso específico, permitindo isolar os pisos superiores, mantendo-os com o seu carácter especificamente privado. A colocação dos arquivos no piso de cave e no 2º piso tem como objectivo manter uma ocupação das zonas periféricas dos edifícios existentes. A tipologia não é alterada perante a introdução de novas funções, estabelece-se um processo de continuidade, enfatizando o novo uso perante o espaço existente. Procurou-se gerar divisões nos espaços, sempre que possível e/ou necessário, através da inclusão de mobiliário, com o objectivo de não massificar os espaços existentes. Adequando-os assim a novas funções e flexibilizando-os a usos futuros, estabelecendo deste modo um princípio de reversibilidade importante na abordagem a este tipo de intervenções. Edifício C É o elemento aglutinador das vertentes públicas. A recepção é feita através de uma antecâmara, imediatamente ligada à sala multiusos no piso térreo, sendo separada pela caixa de escada. Funcionando como recepção do edifício novo, é dotada de um carácter expositivo, de forma a tornar o contacto mais acolhedor, informativo e social. Esta zona tem a particularidade de ter um pátio secundário, espaço que surge entre o limite da propriedade e do edifício proposto, estabelecendo relação com a luz natural. Os braços laterais que circunscrevem o pátio de chegada, são equipados pelo bar (poente) e livraria (nascente). Os braços unem o edifício C e os edifícios existentes, tendo comunicação entre os vestíbulos e os edifícios existentes através de circulações rampeadas. No piso -1, localizam-se as instalações sanitárias, vestíbulo | bengaleiro, sala de formação e compartimento técnico. No piso 1, localiza-se a secretaria com as respectivas áreas de apoio, onde será feito o atendimento geral. Nos braços laterais distribuem-se os gabinetes de atendimento, reprografia e arrumos, equipados com clarabóias. Os serviços administrativos, secretaria, beneficiam da luz natural através de um segundo pátio. Este elemento surge da confrontação da ortogonalidade do edifício com os limites excêntricos do lote. A nossa intenção de formar um objecto singular em que os espaços se articulam de forma clara e objectiva, tenta que o objecto valha pela sua imagem abstracta e silenciosa. Soluções Construtivas Edifícios A e B Os edifícios existentes serão alvos de um reforço estrutural. Os sistemas construtivos, estruturas em madeira, serão recuperados, e na impossibilidade de recuperação, serão executados de forma idêntica ao existente. A introdução de novos elementos surge apenas da necessidade de consolidar os elementos estruturais, quer seja nas fundações ou vigamentos de pisos e coberturas. A ocupação dos espaços é feita de forma suave, sendo atribuído especial cuidado ao peso dos elementos a introduzir, de forma a não sobrecarregarem a resistência da estrutura dos edifícios existentes. A cobertura do edifício a poente (Edifício A) necessita de estabilização e consolidação da estrutura de suporte e de substituição dos elementos que servem de acabamento. O edifício a nascente (Edifício B), terá de sofrer uma reestruturação completa, devido às insuficiências estruturais e técnicas que apresenta, tendo a sua reconstrução como base o desenho da cobertura do edifício com que faz conjunto. Os alçados Sul sofreram correcções, resultantes das necessidades, funcionais do conjunto. O alçado do edifício a nascente (Edifício B), tornou-se idêntico ao alçado poente (Edifício A). Nos alçados que fazem frente para a passagem comum do logradouro, serão demolidos dois cobertos em madeira, que não pertencem ao projecto original e desvirtuavam o carácter do conjunto. Edifício C O critério adoptado para a nova construção foi a uniformização de sistemas e aplicação elementar de materiais. Em cada superfície ou espaço, aplicar-se-á um único material, na cobertura, nos caixilhos, no pavimento exterior, no pavimento interior, nas paredes, nos tectos. O material aplicado nos paramentos exteriores e na cobertura, será pedra granítica montada sobre estrutura de fixação, num sistema de fachada ventilada. A pedra será em tudo idêntica à utilizada nas cantarias dos edifícios existentes. O pavimento exterior do pátio de entrada será gravilha de pequena granulometria agredada com ligante, num sistema técnico que permite a total absorção das águas pluviais, tornando-o permeável. O pavimento do pátio secundário será em gravilha de pequena granulometria, em pedra em tudo igual à aplicada nas placagens das fachadas e da cobertura. Todos os caixilhos serão em perfis metálicos com vidro duplo. O material a aplicar nos pavimentos interiores e em lambrins, será a marmorite, com cores neutras. Os tectos serão em painéis de gesso cartonado, com estrutura em chapa zincada, permitindo uma solução acústica mais eficiente. As portas e todo o mobiliário incorporado nos espaços serão lacados. Ventilação A ventilação dos edifícios será, sempre que possível, feita através de forma natural. As caixilharias são, quase sempre, dotadas de sistemas de ventilação natural, que evitam as condensações internas. Os espaços interiores (instalações sanitárias) serão todos ventilados mecanicamente, ficando por isso o edifício em sobrepressão e permitindo desta forma a ventilação dos espaços que será realizada através das entradas de ar para o exterior (extractores). Para reforçar a circulação de ar as portas serão elevadas cerca de 1cm do chão. Desta forma está assegurada a ventilação de todos os espaços. Os espaços dos edifícios existentes têm renovação de ar, através de ductos ligados aos ventiladores instalados no desvão das coberturas. As máquinas colocadas no desvão da cobertura têm mansardas técnicas, directamente ligadas ao exterior, para insuflação e extracção de ar. Climatização A climatização dos edifícios existentes é feita através de ventilo-convectores integrados em peças de mobiliário, colocados de forma pontual nas diversas salas. No Edifício C a climatização é feita através de difusores colocados no tecto. Iluminação O conceito para o aproveitamento da luz natural nos edifícios existentes, A e B, baseia-se na distribuição dos postos de trabalho de forma a tirarem o maior partido possível da mesma. No Edifício C, as áreas de maior permanência, secretaria (piso 1) e sala multi-usos (piso 0), foram implantadas junto à fachada sul, que, embora seja totalmente envidraçada, é devidamente sombreada. O bar e a livraria, implantado no piso 0 do Edifício C, tem uma relação franca com o exterior, sendo as fachadas envidraçadas, com telas de protecção solar. Quanto à luz artificial, em todos os edifícios, tem como objectivo optimizar recursos, para que as perdas sejam residuais. A iluminação das áreas comuns é sempre feita de forma pouco intensa, com sensores de movimento incorporados, oram nas luminárias (Edifícios A e B), ora nas paredes (Edifício C). A iluminação dos postos de trabalho, funcionará com pontos de luz integrados no mobiliário. Esta solução tem como objectivo criar uma utilização em função do número real de pessoas que estejam a utilizar o espaço, gerindo os gastos energéticos desnecessários. Acessibilidades Relativamente aos edifícios existentes, entendeu-se dar prioridade à preservação dos elementos arquitectónicos originais. No entanto, as soluções arquitectónicas adoptadas para o Edifício C dão cumprimento ao Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto. O acesso através da via pública é feito através do logradouro. A plataforma de acesso é composta por três rampas com 6% de inclinação e projecções horizontais com 6,50m e 9,00m e os respectivos patamares com 1,65m e 1,50m. A plataforma é equipada por duplo corrimão central. A soleira da entrada principal e do pátio interior tem 0.02m de altura e aresta boleada. A entrada principal, ao nível do piso térreo, permite a manobra de rotação de 360º. A comunicação entre os pisos é feita através de ascensor, devidamente homologado para pessoas com mobilidade condicionada. Todos os pavimentos interiores dos diferentes pisos serão devidamente regulares e nivelados, com pavimentos anti-deslizantes. Todos os espaços de circulação têm, no mínimo, 1,20m de largura, sendo livres de obstáculos. Todos os vãos interiores têm largura útil livre de 0,80m, no mínimo. NPS arquitectos |
|